segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

RIO DAS PEDRAS EMBANDEIRADO , A XÍCARA E O FORNO DE SAUNA .

 
 

Há algum tempo e de maneira recorrente penso em registrar, de alguma forma, a perda de qualidade gradual e constante do nosso  Rio das Pedras .Quem sabe encontrei um meio de externar  e dividir com todos esta preocupação e , pelo menos para mim , profunda tristeza.

Margem com Lixo Rio das Pedras dez09                                                                           

Em algumas oportunidades sou convidado a conversar com estudantes da rede municipal sobre este assunto, como aconteceu recentemente na E.M. Fernando Otávio Xavier, a convite do Prof. Rogério , como parte das atividades de comemoração da Semana do Meio Ambiente . É quando aproveito para encaixar o problema da nossa micro-bacia com o Ciclo Hidrológico, sua importância no entendimento das enchentes de verão, com a poluição e, como a água por si só, atua como um agente diluente e solvente importante frente aos impactos causados pelo lançamento irregular de esgotos em seu curso.

Penedo Est. 3 Cachoeiras Abril 2010 011

Ao abordar as diversas formas de poluição que nosso rio vem sofrendo, seja pelo lançamento direto de esgoto doméstico sem qualquer tratamento, seja pela poluição física quando do lançamento de toda sorte de resíduos, direta ou indiretamente em seu leito, como também a poluição física que corresponderia às novas construções dentro de área protegida por lei e que, infelizmente, foram permitidas nestes últimos 10, 20 anos, procuro discutir com os jovens, nos quais sempre  deposito muitas esperanças , a importância de sua atitude como cidadão na forma de como agir para não destruir o lugar onde , provavelmente ,  terão algum tipo de vínculo no futuro.

Preciso registrar ainda que, antes de escolher Penedo para residir, onde minha família freqüenta como turista desde o início dos  anos 50 e sendo  proprietária desde 1957 ,  visitei alguns outros lugares para que minha decisão não fosse só influenciada por este forte laço . Lembro então de ter visitado Itaipava-RJ , distrito de Petrópolis. Na época  observei sinais de ter ocorrido uma enchente no  Rio Piabanha , que margeia parte do distrito,  e ter observado que  a vegetação  de suas margens , meio que deitadas pela enxurrada  estavam cobertas por  muito resíduo de saco plástico multi-coloridos , garrafas pets , trapos etc etc. . Um verdadeiro horror  ........  Na hora pensei, aqui jamais. Para encurtar, optei por Penedo.

Antes de comprar minha atual  residência , residi por 2 anos na casa de meus pais , cujo terreno fica próximo ao Rio das Pedras , onde na infância costumava  me esbaldar junto com um montão de irmãos e amigos  , banhando,mergulhando e pescando lambaris e acarás em todos os seus poções . Pura alegria.

Ao longo destes primeiros meses de nova vida na colônia  e depois de ter dado umas espiadas para o rio da ponte existente em frente a esta casa, resolvi tirar uns pedaços de tijolos e cerâmicas que repousavam em seu leito e que  insistiam em machucar o meu olhar. Resumo da ópera. Passei uma manhã inteira recolhendo tudo que possam  imaginar , inclusive um forno de sauna todo enferrujado. Repito........um forno de sauna. Caí na realidade.

Ah!! Minha esposa bem lembrou,  enquanto escrevo estas linhas........... E a caneca ??? É que recolhi também uma  caneca de café , Pozzani  Made in Brazil  Jundiaí SP ( foto acima )  (http://www.porcelanabrasil.com.br/p-pozzani.htm ), que por ironia do destino retrata uma Sra. sentada em uma cadeira em X , de costas , olhando o que parece ser um curso de água com uma vegetação em sua margem, tudo limpo e bem calmo. Guardo-a com carinho até hoje, sei lá porque ou para  quê .Portanto, não é de hoje que nosso rio vem sendo usado como bota fora de tudo.

Fotos pousada e hotel dez09 035
É lógico e natural!
Abandonamos a educação e construímos Brasília.
Largamos a saúde e inventamos o tal Plano de Saúde.
Educação esquecida, problemas sociais (insegurança) crescem em escala exponencial. Criamos então as grades, câmeras de vigilância e os carros blindados.
E sem educação, adeus rio das Pedras  da minha infância .
E sem educação,  aonde pensamos chegar...................

Puxa , tanta volta , para então retornar  ao título deste escrito.

Dia 11 de novembro próximo passado, chuvas fortes nas cabeceiras e nova enchente do rio .  Alagamentos por todo lado e pela primeira vez observo o Rio das Pedras , desde o trecho das 3 Cachoeiras, com  suas margens embandeiradas com toda sorte de lixo , quem sabe em homenagem ao Dia da Bandeira que se aproximava . Que pena ! Doravante assim será........
Cabe uma pergunta  ou reflexão...Se tanto ficou agarrado pela galhada das margens............. Quanto lixo foi parar no Paraíba.....No Atlântico.............Na barriga  das tartarugas e outros animais  indefesos ?????

Não perderei tempo em buscar culpados  pois , para mim , já está tudo bem claro.

Ou voltamos nossos esforços para a educação de base em todo país ou, se ruim  está , aproveitem , porque vai piorar.

Outra vertente para  somar , seria através de uma postura da comunidade frente ao município e, apenas para ilustrar,  copio um arrazoado de um desembargador de Santa Catarina que serve de suporte  em uma Ação Civil Pública Ambiental com Pedido de Liminar movida pelo Promotor de Justiça Curador do Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais contra um município poluidor  de Minas Gerais , que julgo super esclarecedor.

"A geração atual não possui legitimidade para 'enterrar' um recurso natural de valor
ambiental destinado às futuras gerações.O Direito Ambiental não permite isto, aliás, se assim
o permitisse, estaria 'enterrando' o futuro das próximas gerações. É aí que entra a
importância do exercício integral da cidadania, do Poder Judiciário e do Ministério Público.
Poluir um curso d'água ou omitir-se na sua despoluição, seja em área urbana ou rural, é
condenar a espécie humana à morte. Canalizar um córrego d'água (que não possui a
vocação para ser um condutor de esgotos!) poluído é fugir da obrigação legal de tratar os
resíduos nele despejados e de reflorestar, de proteger, de preservar e de conservar suas áreas
ciliares; é tentar esconder a própria incompetência e os próprios erros, é enterrar o valor
ambiental (histórico, paisagístico, turístico, cultural, educacional, etc.) dos córregos urbanos
ou rurais, negando-os à presente e futuras gerações; é alterar e desvalorizar a cultura, a
educação e o comportamento de uma sociedade; é aniquilar a esperança de um futuro
melhor para jovens e velhos, enfim, é exterminar o direito da presente e futura geração ao
meio ambiente sadio, essencial à boa qualidade de vida." (Rodrigo Andreotti Musetti. in O
Direito Ambiental e as Enchentes, apud Habeas corpus n. 99.003755-0. Relator: Des. Amaral e
Silva. TJSC).

Finalmente, e também para ser justo com Itaipava-RJ , ilustro a reação da comunidade local frente à poluição que acima descrevi.

Projeto Parque Orla do Piabanha (POP) prevê parque arborizado com espécimes da flora petropolitana, ginásio esportivo, centro de convenções, bromeliário e mercado de flores na margem esquerda do Piabanha.
   Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Se o “hino” inspirou corações nos anos 60, que sirva hoje como estímulo para a sociedade civil arregaçar as mangas e agir. E assim será feito, se depender do empenho da Associação de Moradores e Amigos de Santa Mônica e do Petrópolis Convention & Visitors Bureau, entidades envolvidas na criação do inédito Parque Orla do Piabanha. Nesta edição, os diretores da NovAmosanta, Roberto Penna Chaves e Aníbal Duarte, e o autor do projeto, Orlando Graeff, explicam detalhadamente como será o POP. Em breve, bons ventos soprarão em Petrópolis, especificamente em 4,5 quilômetros de Itaipava.

Um trecho do projeto diz  ainda o seguinte. Vejam se tem algo em comum com o atual Penedo?

" De repente, vimos pessoas se unirem em prol de melhorias para Petrópolis RJ. A partir dessa motivação, formatamos o projeto POP, que terá como área- piloto a margem do rio que se prolonga do Hortomercado Municipal ao lugar conhecido como “arranha-céu”. Para isso, pesquisamos os principais problemas da região, que podem provocar, a longo prazo, seu esvaziamento econômico: favelização das margens do Piabanha; atividade econômica concentrada nos finais de semana e feriados, com predominância de veranistas; congestionamento do tráfego; falta de atrações turísticas; falta de espaços públicos de recreação devidamente arborizados; dificuldade de manutenção das margens e do leito do rio. Em seguida, levantamos os benefícios e estabelecemos os objetivos do POP."

Mais detalhes deste projeto  consultem o endereço eletrônico abaixo :

http://www.estacoesdeitaipava.com.br/anteriores/07um/capa07um.htm


Este texto, em quase seu todo, foi também publicado no Jornal Ponte Velha , Resende e Itatiaia RJ, em  dezembro de 2009.

www.pontevelha.com

sábado, 23 de janeiro de 2010

PENEDO RJ : SÉRIE NATUREZA -CONSIDERAÇÕES GEOLÓGICAS DA VILA DE PENEDO

 

 

PENEDO RJ : SÉRIE NATUREZA

Este pequeno texto tem como objetivo descrever, de uma forma bem simples, alguns aspectos geológicos do entorno da Vila de Penedo - RJ, englobando  parte do que chamamos Região das Agulhas Negras.

FOTOS DIVERSAS set 2010 Gary 116

Nas atividades que envolvem o turismo brasileiro, diferentemente de países onde estas condutas são, na prática, levadas a sério, pouca ou quase nenhuma importância se dá aos aspectos e registros dos fenômenos que envolvem a natureza de um lugar, e de como ele se encaixa fisicamente em nosso planeta como um todo.
Em contra ponto a este fato, é preciso registrar, antes de começar este pequeno relato, o relevante e belíssimo trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro( DRM-RJ ), denominado Caminhos Geológicos que, de forma resumida, constitui na permanente divulgação para a comunidade brasileira em geral, dos mais importantes fenômenos e feições geológicas de nosso estado. Vale a pena conhecê-lo visitando o endereço: http://www.caminhosgeologicos.rj.gov.br/site/home/ .
Para breve deveremos contar com este trabalho em nossa região.


Utilizo, para ilustrar este texto a seguir, de dois desenhos elaborados por dois diferentes artistas finlandeses com profunda sensibilidade dos aspectos naturais de nossa vila, feitos a partir de uma visada da antiga Pousada da Da. Lídia Reiman,  atual Pousada Arboretum, (veja nosso site para o registro histórico www.arboretum.com.br).
O primeiro desenho foi assinado em 17/04/50 por um artista de teatro finlandês que aqui viveu e morreu, Arno Kallio.

figura03

A obra de arte retrata com perfeição o contraste do relevo ondulado do embasamento rochoso de Penedo, com a forma de meia laranja, em contraste com as rochas mais recentes do Maciço do Itatiaia, que produzem um relevo mais escarpado, mais acidentado. Um verdadeiro primor de detalhes e acuidade. Somente pessoas muito sensíveis ou com verdadeiro conhecimento científico para detalhar tão bem em uma pintura, os encantos da natureza.  
Compare com a foto abaixo. Muito bom!

 FOTOS DIVERSAS set 2010 Gary 129
O segundo é um bico de pena de Alva Athos  Fagerlande , arquiteto e  primeiro descendente de finlandeses nascido na vila,  pintado em 1956 também a partir da atual Pousada Arboretum . Este desenho retrata o Rio das Pedras encaixado no relevo local, margeado por uma pequena mata ciliar.

figura01

Está também repleto de detalhes geológicos que abaixo tentarei descrever. Ainda, nesta figura, como um ponto focal, é mostrado o desenho de um belo exemplar de Ipê amarelo (Tapebuia sp ).

Passarei agora a descrever a geologia do entorno de Penedo-RJ que está resumida, de forma bem simplificada,  abaixo:

Um embasamento rochoso muito antigo, com mais de bilhão de anos, composto principalmente por rochas metamórficas do grupo dos gnaisses.

 

Penedo Est. 3 Cachoeiras Abril 2010 008

Belos afloramentos são facilmente encontrados na porção alta de Penedo, em trechos do leito dos rios locais sendo muito belos os existentes nas 3 Cachoeiras , 3 Bacias e Cachoeira de Deus,  além de muitos outras exposições onde o solo argilo-arenoso de cobertura foi carreado por fenômenos erosivos proporcionando novas  exposições destas rochas gnássicas, possuidoras de uma típica e nítida foliação.
O Pico do Penedo representa uma porção mais quartzosa destes gnaisses que compõem nosso embasamento.

 Imagen 024

Nos desenhos descritos acima e que servem de ilustração para nosso texto, observa-se perfeitamente o relevo em meia laranja do embasamento gnássico, aliado à presença de voçorocas que correspondem a formação de grandes buracos no terreno causado pela ação erosiva da água de superfície, resultado negativo do mau uso do solo já em tempos passados e que, no caso, é fruto do desmatamento descontrolado da cobertura vegetal para o plantio de café nos finais do século IXX e durante o século passado. 

Outras rochas mais jovens, com idade de apenas!!! 70 milhões de anos formam o conjunto de rochas alcalinas intrusivas nas rochas do embasamento e compõem as serras do Parque Nacional de Itatiaia. Seus vários tipos litológicos possuem nomes muito engraçados para os leigos, a saber: sienitos, foiaítos, pulaskitos, etc. Elas, não raro, são erroneamente chamadas de granitos, o que não condiz com a verdade geológica, embora, de fato, sejam visualmente rochas ígneas com texturas muito parecidas.

 

Pousada Flores divs set 2010 II 032

Grandes blocos soltos destas rochas, com uma superfície escura devido à formação de musgos, são vistos na superfície e nos solos de cobertura dos terrenos locais.

Parque das Águas Resende RJ 002 

Nos dois desenhos citados anteriormente, estes blocos foram bem observados e registrados. Estes, ao serem fragmentados em forma de cubos ou paralelepípedos, principalmente, servem de matéria prima na construção de muros e pavimentação das residências e ruas de nossa região.

Casa de Pedra 011

A maioria dos blocos arredondados que ocorrem nos leitos dos rios são também produtos da erosão, fragmentação e arredondamento  destas rochas alcalinas.

Importante também para registrar foi a utilização destes blocos , encontrados em nossos ribeirões, na construção de uma das primeiras casas de Penedo, hoje conhecida como Casa de Pedra e que está localizada logo no início da nossa estrada de acesso a vila, a direita. Vale a pena conhecer.


Casa de Pedra 001
Em Serrinha  do Alambari o enorme bloco conhecido por Pedra Sonora talvez seja o mais famoso de todos, e motivo de muita visitação por parte dos turistas.

Em tempos geológicos recentes, mais ou menos 35 milhões de anos atrás, processos erosivos das diversas rochas pré-existentes, levaram ao preenchimento de bacias das planícies do paleo-relevo local, formando o que denominamos de bacias sedimentares. Estas bacias são constituídas por rochas originadas da solidificação de sedimentos do tipo arenoso, argiloso e mesmo de seixos e fragmentos, de um tamanho maior.
Belos afloramentos destas rochas sedimentares podem ser observados do lado direito de quem chega no Portal de Penedo, nos cortes de estrada à direita; logo no início da estrada para Visconde de Mauá; e também em afloramentos nas margens da via Dutra, logo após a vila residencial da AMAN( Academia Militar das Agulhas Negras), entre Resende e o trevo de acesso à Penedo, no sentido Rio - São Paulo(foto abaixo).

Parque das Águas Resende RJ 054
Estas rochas compõem a Formação Resende e são nelas que alguns poços perfurados produzem a água mineral de Resende que todos conhecemos e bebemos. Não deixe de visitar o Parque das Águas de Resende e saborear esta riqueza natural cuja qualidade também está ameaçada pelo crescimento desordenado de nossas cidades.
Parque das Águas Resende RJ 026
Finalmente, temos os sedimentos recentes, que compõem os solos superficiais e os sedimentos areno - argilosos dos fundos dos leitos e das pequenas praias de nossos rios, que denominamos de aluviões, observáveis principalmente nos trechos do baixo Penedo onde o rio perde sua energia típica das cabeceiras e deposita em seu leito e margens grande parte dos sedimentos que transporta, produtos dos processos erosivos da superfície, naturais ou mesmo causado pela ação do homem.
B Córrego Frio e

A maioria dos grãos que compõem os aluviões é de um mineral denominado quartzo que nunca se altera ou decompõe, mas vai se fragmentando e se arredondando ao longo de sua viagem nos leitos dos rios. Pois serão estes sedimentos arenosos que transportados pelos rios continuamente, um dia chegarão ao litoral formando as areias claras de nossas lindas praias oceânicas e, por que não, fluviais.

É sempre uma longa e bonita viagem como também é a história geológica do planeta Terra.

Finalizamos dedicando este simples relato geológico ao nosso querido e entusiasmado professor Joel Gomes Valença que, recentemente, nos deixou fisicamente. Nos sentimos responsáveis, dentre  seus muitos discípulos, com  a responsabilidade de  manter viva a divulgação das maravilhas geológicas de nosso planeta.